A Petrobrás enfrenta uma
perda de produtividade cada vez maior na Bacia de Campos, que responde por
quase 80% da produção de petróleo do País. Na média, a estatal tem tirado um
barril de água para cada barril de petróleo extraído. A queda na produtividade
tem sido tão grande que anula os resultados excepcionais do pré-sal, fazendo
a produção total da empresa estagnar e até cair.
A quantidade de água nas plataformas
já passa de 1,5 milhão de barris por dia, segundo dados
da Agência Nacional do Petróleo (ANP). O motivo seria o pouco investimento em
novos poços, declínio natural e má gestão dos reservatórios, segundo fontes e
geólogos.
“Algo muito sério está acontecendo na
Bacia de Campos”, disse o geólogo Pedro Zalán, da consultoria Zag. Ele
atribui a queda primordialmente à falta de investimentos em novos poços e de
injeção de água, com a Petrobrás desviando suas sondas e esforços para a área
do pré-sal. O declínio natural de campos antigos (maduros) e a má gestão de
reservatórios viriam a seguir, nesta ordem, disse.
Já o geólogo e
consultor John Forman diz que o excesso de água também é efeito da corrida da
companhia pela autossuficiência. “Forçar a produção tem consequências”, disse. Forman
explica que o ritmo de produção mais intenso que o adequado faz a água
naturalmente contida dentro do reservatório subir mais rapidamente, reduzindo o
potencial total de extração de óleo. “Possivelmente seria produzido mais óleo
hoje se não tivessem acelerado a produção lá atrás”,disse.
O analista do
HSBC Luiz Carvalho chamou a atenção para o fenômeno em seu último relatório. A Petrobrás chegou a informar em agosto
que a produção de água foi maior do que a de óleo, a primeira vez que isso
aconteceu. “Para nós é uma
clara preocupação”, disse. “Seguindo uma tendência dos últimos seis meses, o
excesso de produção de água como um subproduto se tornou um sério problema na
Bacia de Campos.”
Atraso
O atraso no
cronograma de entrada em funcionamento de plataformas também contribui para a
redução da produção em
Campos. Em qualquer lugar, os campos têm um declínio natural.
Para manter a produção estável, é necessário acionar novos poços de forma a
compensar a queda nos antigos. Para elevar a produção, é preciso ir além da
simples compensação. “A Petrobrás está produzindo quase 400 mil
barris por dia no pré-sal e, mesmo assim, a produção total está estagnada. Tem
até ligeiro declínio. Isso preocupa”, disse Zalán.
A Petrobrás
trabalha com uma taxa de declínio de 12% ao ano, segundo o HSBC.
Mas o banco calcula que o declínio tenha ficado em 19% em 2011 e 2012,
melhorando para 16% em 2013. “Nos últimos oito anos, a produção de água
aumentou de 610 mil barris/dia para 1,592 milhão. Já a produção de petróleo
passou de 1,174 milhão barris/dia para 1,592 milhão barris/dia”, disse
Carvalho.
Não fosse o
pré-sal, onde quase mensalmente são anunciados recordes de extração e
praticamente não há produção de água, os números da Petrobrás seriam bem
piores.
“Declínio padrão”. Por intermédio
de nota, a Petrobrás informou que declínio natural da produção dos seus campos
na Bacia de Campos está abaixo de 10% nos últimos dois anos, Para a empresa,
esse porcentual de declínio é inferior ao padrão mundial de referência.
A nota da
Petrobrás afirma ainda que as características dos reservatórios de Campos exigem
a injeção de elevados volumes de água para aumentar o seu respectivo fator de
recuperação. O grande volume de água produzida resulta, portanto, do processo
padrão, segundo a empresa. AE