BISPO “CATÓLICO LIBERAL” AFIRMA HAVER
MATADO PESSOAS DE “RAÇAS INFERIORES” NO BRASIL -
O TEOSOFISTA
Um texto que aborda a narrativa do bispo da chamada “Igreja Católica Liberal”, Charles Leadbeater, segundo a qual ele teria matado a tiros grande número de brasileiros durante sua juventude. A seleção tem o título de “Leadbeater Diz Que Matou Brasileiros”.
Uma primeira versão do texto “Leadbeater Diz Que Matou Brasileiros” foi publicada em “O Teosofista”, edição de dezembro de 2008, sob o título “Terá C. W. Leadbeater Matado Indígenas e Negros no Brasil?”. O texto que se segue foi atualizado em fevereiro de 2011. A coleção completa de “O Teosofista” pode ser encontrada como uma seção temática independente em www.FilosofiaEsoterica.com .
(Os Editores)
Em janeiro de 2009, um líder político de raça mestiça, considerado um negro, assumiu o cargo de presidente dos Estados Unidos. O fato foi em si mesmo uma vitória para a Causa do movimento teosófico.
A escolha democrática de Barack Obama significou uma vitória do movimento teosófico - fundado em 1875 por Helena Blavatsky -, porque o primeiro objetivo do movimento é a vivência da fraternidade universal independentemente de raça, classe, sexo, casta ou religião. Mas isso não é tudo.
A posse de Barack Obama no cargo eletivo mais importante do mundo também trouxe um desafio para os teosofistas. Embora o ensinamento original e os setores autênticos do movimento esotérico sejam anti-racistas, existe um profundo desrespeito em relação a negros e índios em alguns “best-sellers” de Charles Leadbeater, o bispo da chamada “Igreja Católica Liberal” que viveu até 1934 e é o autor mais importante na pseudo-teosofia ritualista promovida pela Sociedade de Adyar.
É verdade que, desde a vitória da democracia na segunda guerra mundial, os livros de Leadbeater vêm sendo gradualmente deixados de lado. O processo, porém, tem sido excessivamente lento.
Leadbeater foi expulso da Sociedade Teosófica em 1906 pelo seu presidente fundador, Henry Olcott. Por algum motivo lamentável, Olcott morreu poucos meses depois - e Leadbeater de imediato voltou a dominar a Sociedade, criando ritualismos e organizando uma paródia da volta de Cristo. No século 21, a situação é outra. Cresce o número de pessoas que compreendem o alerta feito pelo fundador de Loja Unida de Teosofistas, Robert Crosbie:
“Leadbeater queria ser reconhecido como um grande instrutor, e para chegar a outros reinos da natureza ele usou os meios mais abomináveis - magia negra, na realidade.” [1]
A denúncia das ideias leadbeaterianas é particularmente importante no Brasil, porque o país é multi-cultural e multirracial, e a sua legislação define racismo como crime. Divulgar as ideias de Leadbeater contraria a lei vigente. Os membros da Sociedade de Adyar são pessoas sinceras, mas nem sempre estão bem informados e são vítimas de medo supersticioso. Nos tempos atuais, com acesso mais fácil aos fatos, eles podem e devem ampliar seu contato com a realidade, optar pelo bom senso, e impedir a lamentável divulgação de ideias fascistas em nome da teosofia.
Leadbeater Afirma Haver Matado Brasileiros
Em sua edição de dezembro de 2007, “O Teosofista” analisou principalmente o livro “O Homem Visível e Invisível”, de Charles Leadbeater, mostrando que este autor expressa ali a ilusão - supostamente “clarividente” - de que os brancos são superiores aos negros e aos indígenas. Vejamos agora mais especificamente o que Leadbeater afirma em outra obra em relação ao povo brasileiro.
No prefácio do seu livro “The Perfume of Egypt” [2], ele escreve que “as histórias contadas neste livro são verdadeiras”. O conto mais longo da obra descreve, sob o título “Salvo Por Um Espírito”, as supostas experiências de C. W. Leadbeater no Brasil em torno de 1860.
Cabe, inicialmente, perguntar: quem afirma que se trata de fato do Brasil? No texto, C. W. L. só menciona “América do Sul”. É C. Jinarajadasa, protagonista da história e suposto irmão de C. W. Leadbeater, quem escreve que os acontecimentos ocorreram no Brasil. Jinarajadasa afirma:
“A história da minha prévia (e gloriosa) morte no Brasil está narrada no capítulo “Salvo Por Um Espírito”, da obra ‘The Perfume of Egypt’, de C. W. Leadbeater.” [3].
No Brasil, a obra de Leadbeater foi publicada com o título geral de “Salvo Por um Espírito”. Jinarajadasa acrescenta que, pouco depois de morrer como irmão biológico mais moço de C. W. Leadbeater, ele nasceu de novo no Sri Lanka. Alguns anos mais tarde Leadbeater foi a Sri Lanka e o teria “reconhecido” como seu irmão em seu novo corpo.
A obra “A Gnose Cristã”, de Leadbeater, inclui uma pequena biografia do autor. Em uma nota de pé de página para a edição brasileira da Ed. Teosófica de Adyar [4], há a afirmação, com base em “The Theosophical Yearbook of 1937”, p. 219, de que Leadbeater veio ao Brasil quando tinha 13 anos de idade, junto com seu pai e seu irmão Gerald. A nota acrescenta que os acontecimentos narrados em “Salvo Por Um Espírito” ocorreram na Bahia.
A narrativa de “Salvo Por Um Espírito” é surpreendente em vários sentidos. O autor descreve da seguinte maneira o povo brasileiro, à página 109 da edição da Ed. Pensamento:
“Primeiro, vêm os descendentes dos conquistadores espanhóis e portugueses - raça orgulhosa, indolente, elegante e hospitaleira, de forma alguma destituída de boas qualidades, mas, ainda assim, tendo como sua mais forte característica um imensurável desprezo (ou afetação disso) por todas as outras raças, fossem elas quais fossem.”
Há muitos erros nestas poucas linhas.
Em primeiro lugar, os espanhóis nunca foram “conquistadores” do Brasil. Por outro lado, os povos português e espanhol não podem ser descritos como uma “raça”. Muito menos como uma “raça indolente”. Em terceiro lugar, os portugueses não demonstravam de modo algum “imensurável desprezo” por outras “raças”.
Mas, no parágrafo seguinte, Leadbeater fica ainda mais longe da realidade:“Depois, vinham os índios vermelhos”, diz ele. Como se sabe, nunca houve “índios vermelhos” no Brasil. No entanto, a expressão “índios peles-vermelhas” é comum nas histórias de bangue-bangue do faroeste norte-americano.
C. W. L. continua: “Dessas tribos, muitas tinham adotado um tipo de esquálida semi-civilização, mas muitas outras ainda eram selvagens, indomadas e indomáveis - homens que viam o trabalho, fosse de que espécie fosse, como a mais profunda degradação, e que odiavam o homem branco com um ódio tradicional, inflexível, e que (estranho como possa parecer) iam ainda além da reciprocidade do infinito desprezo dos fidalgos espanhóis de sangue azul. Será, sem dúvida, incompreensível para muitos de nós que um selvagem seminu possa manter qualquer outro sentimento que não seja o da inveja pela nossa civilização superior, por muito que não gostem de nós, mas só posso dizer que o mais autêntico e natural sentimento do Índio Vermelho para com o homem branco é puro e implacável desprezo.” [“Salvo Por Um Espírito”, p. 109.]
O ódio racial brilha tanto quanto a ignorância, nesta passagem infeliz. Três aspectos devem ser ressaltados:
1)Temos aqui novamente os “fidalgos espanhóis”, que parecem estar governando o Brasil, um país independente de Portugal desde 1822, e que nunca teve uma classe dominante “espanhola”.
2)Vemos no trecho mais uma vez os “Índios Vermelhos”.
3)A verdade é que os povos indígenas no Brasil tinham menos ódio que amizade pelas pessoas brancas. Predominavam a integração e a cooperação. Na ausência delas, havia submissão.
Assim, esses parágrafos não são de modo algum verdadeiros em relação ao Brasil, ou ao estado da Bahia. Mas Charles W. Leadbeater prossegue:
“Em terceiro lugar vinha a raça negra - parte não pequena da população, em sua maioria em estado de escravidão, embora o governo estivesse fazendo tudo quanto podia para afastar aquela maldição de seus territórios. Por fim, vem o pior, os chamados mestiços, meio sangue - raça mesclada que parecia, como às vezes acontece com esse tipo de raça, combinar todas as piores qualidades das raças de ambos os progenitores. Os índios, os espanhóis, os negros, todos eles os desprezavam, e eles, por sua vez, olhavam todos os outros com virulento rancor.” [ “Salvo Por Um Espírito”, metade superior da p. 110 ]. O trecho faz uma defesa aberta do racismo.
Ainda que a narrativa não se referisse ao Brasil, e mesmo que ela possa ser vista apenas como uma ficção de péssima qualidade, o tom racista presente no texto é enfático, inegável e inaceitável.
Estas idéias são radicalmente opostas à filosofia teosófica, e antecipam a ideologia nazista da “raça superior”.
Para assinalar a posição da teosofia autêntica, vejamos a carta de um Mahatma escrita no início dos anos 1880, em que o Iogue relata a posição tomada pelo Mestre dos Mestres, o Chohan:
“Para alcançar o objetivo proposto [para o movimento teosófico], foi determinado que houvesse uma convivência maior, mais sábia, e especialmente mais benevolente, do superior com o inferior, do Alfa e do Ômega da sociedade. A raça branca deve ser a primeira a estender a mão da fraternidade aos povos de cor escura e a chamar de irmão o pobre ‘negro’ desprezado. Esta perspectiva pode não agradar a todos, mas não é teosofista aquele que se opõe a este princípio.”[5].
E H.P. Blavatsky escreveu em “A Doutrina Secreta”, referindo-se a um cientista de nome Agassiz:
“A unidade da espécie humana foi aceita pelo professor de Cambridge do mesmo modo como ela é aceita pelos ocultistas, ou seja, no sentido da homogeneidade essencial e original, com sua origem vindo da mesma fonte: - isto é, negros, arianos, mongóis, etc., todos surgiram da mesma maneira e dos mesmos ancestrais. Estes últimos eram todos da mesma essência, embora diferenciados porque pertenciam a sete planos, que diferiam em grau, mas não em espécie. ” [6].
A descrição feita por Leadbeater de relações inter-raciais baseadas em ódio seria motivo de riso, se não fosse tão ofensiva. A frase em que afirma que “por fim vem o pior, os mestiços”, assegurando que “os mestiços combinavam todas as piores qualidades das raças de ambos os progenitores”, é digna de especial atenção por seu tom, que antecipa a ideologia fascista.
Desde uma perspectiva teosófica, muito pelo contrário, misturar culturas e povos de cores de pele diferentes é parte essencial da preparação para a futura humanidade. O primeiro objetivo do movimento teosófico - a constituição de um núcleo da fraternidade universal sem distinção de raça, entre outros itens - não deixa dúvidas em relação a este ponto.
A narrativa de Leadbeater descreve uma suposta revolta organizada por “índios ferozes” contra a construção de uma estrada de ferro, realizada pelos ingleses. Ele afirma, comentando o momento em que a revolta imaginária estalou:
“Eu passei a mão no meu rifle também - porque eu também tinha um. Naquela região selvagem nem mesmo o pequeno Gerald jamais saiu sem seu minúsculo revólver metido no cinto, e eu, habitualmente, levava um par de Colts, e carregava um rifle comigo, sempre que saía para uma caminhada. E essas precauções não eram de forma alguma desnecessárias...”
É estranho pensar que crianças usassem “minúsculos revólveres” para defender-se; ou que um garoto de 13 anos de idade carregasse “dois Colts e um rifle” cada vez que saía para dar uma caminhada, conforme aparece na página 117 do livro, na edição brasileira.
Seja como for, Leadbeater escreve a sua situação em meio aos violentos combates imaginários:
“Até aquele momento havíamos escapado ilesos, enquanto um número bastante grande de cadáveres jazia em torno da cabana, porque até Gerald havia, valentemente, tomado parte na luta, e abatera pelo menos dois selvagens, além de ferir mais um outro. Do meu lado, um tipo de aspecto feroz havia introduzido a boca do seu rifle através de uma das fendas. Saltei para um lado, agarrei a arma exatamente quando ele a descarregava e disparei meu revólver em cima dele, diretamente para seu rosto. Ele caiu de costas com um gemido, deixando o rifle metido através da fenda.” (página 118, na edição da ed. Pensamento)
Na p. 120, o “bispo” C. W. Leadbeater afirma que, depois de uma pausa, aproveitou a oportunidade para matar outros indígenas:
“... O silêncio transformou-se num pandemônio de sons, os selvagens correndo aos urros em direção à nossa cabana, mais uma vez, disparando louca e incessantemente seus rifles. Eu já havia dado conta de vários dos meus agressores quando meu pai gritou para mim, do outro lado: ‘Aqui, deste lado! Aponte apenas para aqueles homens que trazem o tronco.’ Vi, então, que seis ou oito dos índios estavam carregando um pesado tronco, que contavam usar, era evidente, para derrubar a nossa porta. (...) Concentramos o fogo dos nossos revólveres sobre os que carregavam o tronco; assim, quando chegaram a meia distância a metade deles já estava no chão, e os que ficaram viram que o peso era demasiado para eles. Outros saltaram para a frente, bravamente, a fim de tomar o lugar dos caídos, mas chegaram tarde demais para segurar o tronco que tombava, e desde que ele foi parar no chão, cada homem que se aproximava encontrou a morte.”
No trecho acima, o criador da “Igreja Católica teosófica” confessa que atirava com armas de fogo contra homens desarmados (já que tinham os braços ocupados em carregar o tronco). Atirava, pois, a sangue frio.
Para comprovar a falsidade da narrativa, um teosofista brasileiro solicitou a ajuda de Edivaldo Batista de Souza, que em 1999 presidia a loja teosófica de Adyar na cidade de Salvador, Bahia. Assim, foi obtido o testemunho de um historiador local. O Sr. Desiderio Bispo de Melo, historiador da Universidade da cidade de Salvador, teve a assistência de Mônica Cristina da Fonseca, uma estudante do quinto semestre do curso de História.
O parecer de Desidério Bispo de Melo diz que uma estrada de ferro estava de fato sendo construída na Bahia em 1860-1862; e que havia ingleses envolvidos. Mas esclarece que não houve qualquer revolta com as características pintadas por Leadbeater e, na verdade, não houve qualquer revolta.
O historiador destaca o fato bem conhecido de que o Brasil, como nação, já possuía na época um aparelho de estado completo e organizado. A Bahia era uma das províncias mais importantes do império, e o eventual assassinato de um cidadão inglês teria atraído atenção internacional.[7] Fica estabelecido, deste modo, que nada há de real na fantástica e desastrada narrativa de Leadbeater. Na época, um destacado líder da Sociedade Teosófica de Adyar no Brasil, seguidor radical de Annie Besant, tentou argumentar:
“Bem, o parecer do historiador mostra que os fatos não ocorreram na Bahia. Eles podem ter ocorrido em algum outro estado...”.
A idéia não faz sentido.
Não há registros de revoltas importantes de índios brasileiros contra as autoridades do país, e muito menos na segunda metade do século 19.
Os índios brasileiros não usavam armas de fogo. Eles eram vítimas do alcoolismo, e morriam de gripe, de doenças venéreas, de fome, subnutrição, mas não ofereciam resistência à destruição da sua cultura.
Mesmo hoje, mais de 500 anos depois da chegada dos homens brancos em nosso litoral, há casos em que os indígenas do estado do Mato Grosso se inclinam para o suicídio, mas não para matar quaisquer cidadãos de cor branca. E isso ocorre porque os índios brasileiros são mais pacíficos que os “Índios Vermelhos” que no inicio do século 19 eram mortos - não sem resistência - na América do Norte. Mais pacíficos, e também menos desenvolvidos.
O que a narrativa de Leadbeater mostra é apenas racismo, desprezo pela vida humana e a fantasia irresponsável de que negros e indígenas são moralmente inferiores aos brancos.
Errar é humano, mas corrigir os erros também é humano.
A grande oportunidade histórica que está hoje diante dos responsáveis pela Sociedade de Adyar - e de todos os seus membros e amigos - é a de abandonar pública e honestamente a pseudofilosofia de Annie Besant e Charles Leadbeater, e adotar a filosofia da fraternidade universal ensinada por Helena P. Blavatsky, Damodar Mavalankar, William Q. Judge, Robert Crosbie - e centenas de pensadores de todos os povos e de todos os tempos.
NOTAS:
[1] “The Friendly Philosopher”, Robert Crosbie, Theosophy Co., Los Angeles , 1946 / 2008, 416 pp., ver p. 28.
[2] A primeira edição de “The Perfume of Egypt” apareceu em 1911. A edição brasileira deste livro de C.W. Leadbeater saiu pela Editora Pensamento, SP, sob o título de “Salvo Por Um Espírito”.
[3] “Os Sete Véus Sobre a Consciência”, de C. Jinarajadasa, livro de 77 pp. editado pela Sociedade Teosófica no Brasil na década de 1960, em SP. Veja , ali, na p. 67, a nota de pé de página escrita por C. Jinarajadasa.
[4] “A Gnose Cristã”, C.W. Leadbeater, Ed. Teosófica, Brasília, 552 pp. A nota citada está na p. 15.
[5] Carta 1, “Cartas dos Mestres de Sabedoria”, editadas por C. Jinarajadasa, Ed. Teosófica, Brasília. Veja a metade inferior da p. 18.
[6] “The Secret Doctrine”, Helena Blavatsky, Vol. II, p. 607, Theosophy Co., 1982. Veja “A Doutrina Secreta”, Ed. Pensamento, SP, vol. IV, p. 176, nota de rodapé.
[7] Uma cópia xerox da íntegra do documento do historiador baiano pode ser obtida entrando em contato com os editores de “O Teosofista”.
A reprodução de Leadbeater Diz Que Matou Brasileiros é livre, uma vez que seja citada a fonte - o website www.FilosofiaEsoterica.com
Charles Webster Leadbeater
Charles Webster Leadbeater (1847— 1934) clérigo da Igreja Anglicana e da Igreja Católica Liberal, escritor, orador, clarividente e um dos mais importantes membros da Sociedade Teosófica.
Assinatura de Leadbeater.
Vida
Ainda menino foi levado para o Brasil por seu pai, acompanhado de seu então irmão Gerald, que lá falecera (reencarnando posteriormente como C. Jinarajadasa). Seu pai era empreiteiro de obras de estradas de ferro e realizava viagens a trabalho. As informações sobre sua vida não se encontram reunidas, mas espalhados em muitas fontes, incluindo as Biografias de Krishnamurti, escritas por Pupul Jayakar e Mary Luytens.Ao voltar do Brasil à Inglaterra ingressou na Universidade de Oxford, sendo obrigado a deixar a instituição quando o banco onde sua família depositava os recursos financeiros faliu. Como mérito em seus estudos teológicos, recebeu no ano de 1878 as Ordens Sacras de Sacerdote Anglicano pelo Bisbo de Winchester, exercendo suas funções na Igreja de Bramshott, Hampshire. Seu tio, por linha materna, era o proeminente clérigo anglicano William Wolfe Capes.
Continuou no ofício religioso Anglicano até 1883, quando entrou em contato com os ensinamentos da Teosofia, como expostos por Helena Blavatsky. Abandonou o sacerdócio anglicano para tornar-se um teosofista, seguindo com Blavatsky para a Índia, onde teria recebido uma carta do Mestre K. H. aceitando-o como discípulo. Tomou os votos Budistas ao viver por anos no Ceilão. Viveu por muito tempo na sede da Sociedade Teosófica na Índia, onde, segundo afirmou, desenvolveria poderes psíquicos, notadamente a clarividência. Na Sociedade Teosófica foi grande orador, proferindo palestras por todo o mundo, e também ativo colaborador da segunda presidenta internacional deste movimento, Annie Besant, com a qual editou em conjunto vários livros de pesquisas.
Retornando a Londres, foi iniciado na Maçonaria Mista da Obediência Maçônica Le Droit Humain, onde atingiu o 33º grau.
Charles Leadbeater como mestremaçom do 33º grau da Maçonaria Mista da Obediência Maçônica Le Droit Humain.
Em 1906, Leadbeater foi acusado de pederastia por um de seus alunos, Hubert van Hook, à época com 24 anos de idade. Peter Michel, em sua biografia sobre Charles Leadbeater, afirma que essas acusações tinham origens suspeitas naqueles que ele considerava inimigos pessoais de Leadbeater: Alexander Fullerton, Herbert Burrows, G.R.S. Mead, Katherine Tingley e Hilda Martyn. Para evitar um escândalo dentro da Sociedade Teosófica, Leadbeater dela desligou-se nesse mesmo ano, embora tenha dado continuidade ao seu trabalho como clarividente e escritor.
Entretanto, no final de 1908, os membros da Sociedade Teosófica votaram a favor da readmissão de Leadbeater. Ele aceitou a decisão da comunidade teosófica e retornou a Adyar em 1909. Lá descobriu o jovem Jiddu Krishnamurti, para o qual previu uma existência como um mestre espiritual. Leadbeater advogava que Krishnamurti era o veículo escolhido para a vinda do "Mestre Mundial" ou "Instrutor do Mundo" que os teosofistas estavam aguardando há muito tempo.
O novo mestre seria, assim como Buda, Zoroastro, Moisés, Cristo e Maomé, o criador e o divulgador de uma nova religião que iria mudar os destinos da humanidade. Após dois anos, em 1911, foi fundada a Ordem Internacional da Estrela do Oriente, tendo Krishnamurti como chefe, com o objetivo de reunir aqueles que acreditavam nesse acontecimento, preparar a opinião pública para seu aparecimento e angariar recursos por meio de doações.
Leadbeater passou ainda algum tempo na Índia supervisionando a preparação de Krishnamurti até decidir-se ir para a Austrália em 1915, onde passou a residir em Sydney e lá entrou em contato com James Ingall Wedgwood.
Em 1916, juntamente com Wedgwood, participou da reformulação da Igreja Velho Católica da Holanda, que resultou na fundação da Igreja Católica Liberal (ICL), para a qual Wedgwood foi o primeiro Bispo Presidente. Leadbeater foi Bispo Presidente da ICL de 1923 até o ano de sua morte em 1934.
Leadbeater passou ainda algum tempo na Índia supervisionando a preparação de Krishnamurti até decidir-se ir para a Austrália em 1915, onde passou a residir em Sydney e lá entrou em contato com James Ingall Wedgwood.
Em 1916, juntamente com Wedgwood, participou da reformulação da Igreja Velho Católica da Holanda, que resultou na fundação da Igreja Católica Liberal (ICL), para a qual Wedgwood foi o primeiro Bispo Presidente. Leadbeater foi Bispo Presidente da ICL de 1923 até o ano de sua morte em 1934.
Charles Leadbeater como bispo da Igreja Católica LIberal; Sydney, Austrália, 1925
Crítica
Em seu livro O Babuíno de Madame Blavatsky[1], Peter Washington disseca as vidas de personalidades místicas, incluindo a de Charles Leadbeater. O autor expõe acusações contra Leadbeater, como escândalos advindos da educação sexual que ministrava a jovens de quem era tutor, como Krishnamuti, misoginia e as falhas verificadas de sua "clarividência", entre outras. Todavia, outros clarividentes como Geoffrey Hodson defenderam consistentemente Leadbeater destas acusações, como no trabalho C. W. Leadbeater: A Great Occultist[2], de 1965, onde Hodson afirma ter confirmado inúmeras pesquisas de Leadbeater, e que as acusações contra ele não possuiam fundamento. Gregory Tillet em sua tese de mestrado em jornalismo focada em Leadbeater, posteriormente publicada como o livro The Elder Brother[3], alencou acusações acerca de seu relacionamento com crianças sob sua tutela, que foram investigadas pela polícia australiana com depoimentos dos pais e seus filhos, as quais foram descartadas, inocentando-o e não resultando em prisão ou processo.
Obras
Leadbeater é o autor de uma grande coletânea de livros e artigos da literatura teosófica e esotérica [1], considerados célebres pelos teosofistas e estudiosos do ocultismo, principalmente advindos de suas investigações clarividentes, com destaque para:
Em português
§ Os Chakras
Considerado pela comunidade teosófica como um dos mais famosos livros sobre a descrição dos centros energéticos invisíveis do corpo humano.
§ As Vidas de Alcyone
Investigação sobre as trinta últimas vidas de Krishnamurti, tendo como co-autoraAnnie Besant.
§ O Homem Visível e Invisível
Onde descreve em detalhes, segundo os seus dons clarividentes, a formação e coloração do corpo astral, corpo mental e outros corpos espirituais do ser humano.
Este livro (Thought Forms) foi reconhecido por Wassily Kandinsky em seu manifestoO Espiritual na Arte como um dos precursores do surgimento do modo não-representacional das artes plásticas: o abstracionismo.
§ Química Oculta
Em colaboração com Annie Besant, investigou por meio da clarividência a estrutura das subpartículas da matéria. O pioneirismo desta pesquisa gerou uma série de reconhecimentos científicos, como em Extra-Sensory Perception of Quarks. TPH, 1980, PHILLIPS. S.M., Ph.D, Evidence of a Yogic Siddhi - Anima: Remote Viewing of Subatomic Particles. TPH,1996, PHILLIPS, S.M. Ph.D., ESP of Quarks and Superstrings, New Delhi , New Age International, 1999. ARNIKAR, H. J., Ph.D.,Essentials of Occult Chemistry and Modern Science. TPH, 2000. SRINIVASAN, M., Ph.D., Introduction to Occult Chemistry, The Amazing Phenomenon of ExtraSensory Perception of Nuclear Structure and Subatomic Particles. TPH, 2002.
§ O Homem: donde e como veio e para onde vai?
Publicado em 1913, onde investigou, sob uma perspecitiva teosófica, a formação doSistema Solar, a evolução dos espíritos por entre os planetas atuais e os já extintos; o sistema de rondas e raças no atual planeta Terra. Neste livro, Leadbeater faz uma série de previsões sobre o futuro próximo da humanidade, descrevendo os desenvolvimentos futuros dos sistemas de informação automatizados (incluindo o advento da Internet) e o surgimento de um nova civilização mais espiritualizada a partir de uma comunidade que seria formada nos Estados Unidos aproximadamente seis séculos após a compilação deste livro.
§ A Ciência dos Sacramentos (tradução livre de: The Science of the Sacraments)
Descreve as investigações de Leadbeater sobre o lado interno dos cultos cristãos, e fundamenta a liturgia da Igreja Católica Liberal e, segundo ele, de todas a genuínas Igrejas Católicas como verdadeiros canais de força espiritual, por meio dos sacramentos, para as bênçãos do Cristo para a humanidade.
§ A Gnose Cristã
Publicado postumamente em 1984, cinqüenta anos após a sua morte, descreve os fundamentos da teologia da Igreja Católica Liberal.
§ Compêndio de Teosofia Editora Pensamento
Neste livro o autor apresenta em linguagem simples, bem acessível, certos ensinos fundamentais da Teosofia, que, se bem entendidos e vividos, poderão tornar mais feliz e inteligente a vida humana.
§ Auxiliares Invisíveis Editora Pensamento
Os auxiliares invisíveis, como o autor chama aos Espíritos fora do corpo somático, se fazem sempre presentes, acudindo a uns e a outros de maneira diversa. Os casos relatados por Leadbeater são verídicos e a alguns deles outros autores, de não menor nomeada, fizeram menção.
§ "Os Sonhos" Editora Pensamento
§ "A Clarividência" Editora Pensamento
§ WASHINGTON, Peter. O Babuíno de Madame Blavatsky. Record.
Em inglês
§ Reincarnation (1898)
§ Thought Forms (1901)
§ Man Visible And Invisible (1902)
§ The Inner Life (1911)
§ Man: Whence, How and Whither (1913)
§ Occult Chemistry (1919)
§ The Inner Side Of Christian Festivals (1920)
§ The Science of the Sacraments (1920)
§ The Masters And The Path (1925)
§ Glimpses of Masonic History (1926)
§ The Hidden Life in Freemasonry (1926)
§ The Chakras (1927)
§ Ancient Mystic Rites
§ The Astral Plane
§ The Beginnings of the Sixth Root Race
§ The Christian Creed
§ Clairvoyance
§ Creating Character
§ The Devachanic Plane
§ Dreams
§ The Hidden Side of Lodge Meetings
§ The Hidden Side of Things
§ How Theosophy came to me
§ Invisible Helpers
§ The Law of Sacrifice
§ The Life After Death
§ Light on the Path
§ The Monad
§ The Occult History of Java
§ The Other Side of Death
§ Our Relation to Children
§ An Outline of Theosophy
§ Perfume of Egypt and Other Weird Stories
§ The Perfume of Egypt
§ The Power and Use of Thougt
§ The Smaller Buddhist Catechism
§ Soul's Growth Through Reincarnation (vol. I-X)
§ Spiritualism and Theosophy
§ Starlight
§ Talks on At the Feet of the Master
§ Talks on the Path of Occultism (vol. I-III)
§ A Textbook of Theosophy
§ The Theosophist Attitude
§ To Those Who Mourn
§ Vegetarianism and Occultism
§ The World Mother as Symbol and Fact
Click aqui para ver uma relação cronológica dos trabalhos do sr. Leadbeater (em Inglês). Várias edições online disponíveis: A Chronological Listing of C.W. Leadbeater's Books and Pamphlets.
Curiosidades
§ As pesquisas clarividentes de Leadbeater não eram isentas de erros. Em seu livro A Vida Interna (The Inner Life), ele afirmava a existência atual de uma população de seres humanos no planeta Marte, descrevendo em detalhes a sua cultura, tecnologia, vestimentas e construções [4].
§ Em seu livro, escrito juntamente com Annie Besant, O Homem, Donde e Como Veio e Para Onde Vai (Man: Whence, How and Whither), Leadbeater anteviu, entre outras coisas, o desaparecimento dos jornais impressos, que seriam substituídos por "caixas" por meio dos quais as notícias seriam lidas nas residências.
§ Há uma controvérsia sobre o ano de nascimento de Leadbeater, se ocorreu em 1854 ou 1847. Todavia, a maioria dos estudiosos tende a aceitar 1854 como o ano correto.