Pela atual legislação, o jogo de azar, como o jogo do bicho, é
considerado uma contravenção penal, de menor potencial ofensivo
A comissão de juristas
do Senado que discute a reforma do Código Penal aprovou nesta sexta-feira uma
proposta para criminalizar a exploração dos jogos de azar. O anteprojeto de lei
vai enquadrar como crime, com pena de um ano a dois anos de prisão, quem
explorar a atividade sem a autorização do Estado. Os apostadores não serão
submetidos a sanção penal.
Pela atual legislação, o jogo de azar,
como o jogo do bicho, é considerado uma contravenção penal, que possui
um menor potencial ofensivo. Tanto o explorador como o jogador podem ser
enquadrados pela Justiça como contraventores, com penas que chegam a um ano de
prisão.
A comissão sugeriu acabar com todos os
crimes considerados contravenções penais, previstas na legislação desde 1941. O
colegiado apresentará em maio um texto final ao presidente do Senado, José
Sarney (PMDB-AP). Caberá a ele decidir se acatará ou não as sugestões da
comissão, podendo transformá-las em um único projeto de lei.
No início dos debates, o jurista Luiz
Flávio Gomes havia proposto acabar com a criminalização de qualquer atividade
ligada ao jogo. "Estamos sucumbindo a uma manifestação midiática",
afirmou Gomes. Ele sugeriu que, se o jogo está atrelado ao crime organizado,
deve-se punir apenas o crime organizado e não quem explora a atividade ou
joga.
"Criminalizar o jogo é o maior
retrocesso que vamos cometer nos últimos tempos", criticou. "Ou
regula ou paga imposto ou pega (o crime) pela lavagem (de dinheiro)",
afirmou.
O ministro do Superior Tribunal Justiça
(STJ) Gilson Dipp discordou do jurista. Segundo ele, não se pode desconhecer a
realidade segundo a qual o jogo do bicho e as máquinas caça-níqueis estão
atraindo até máfias internacionais ao País. A atividade, ressaltou, está também
associada a outros crimes, como homicídios. "É o caminho para práticas
altamente gravosas", disse.
Diante de manifestações contrárias,
Gomes recuou e sugeriu uma saída. O jurista propôs criminalizar apenas quem
explora a atividade, com pena de um ano a dois anos de prisão e o explorador
poderia também ser enquadrado como participante de uma organização criminosa.
Essa sugestão faria com que, se o jogo de azar estiver vinculado à lavagem de
dinheiro, o explorador também poderia responder processo por esse crime, cuja
pena chega a 10 anos de prisão.
A proposta alternativa de Gomes foi
acatada. Para o relator da comissão, o procurador regional da República Luiz
Carlos Gonçalves, o novo texto vai melhorar o combate aos jogos ilegais.
"No Brasil agora ou é crime, ou não é nada", afirmou.
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