O
Estado do Rio paga R$ 447 milhões por mês a 32 mil mulheres nessa situação.
Para não perder benefício, muitas, como Márcia Couto, se casam de fato, mas não
de direito
O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro vai
apurar a existência de eventuais irregularidades no recebimento de pensões por
“filhas solteiras”, a partir de reportagens do site iG sobre o assunto.
Márcia Couto (Foto: Reprodução do Facebook de Márcia Couto)
O iG revelou que Estado do Rio paga pensões
a 32 mil filhas de servidores públicos mortos, ao custo anual de R$ 447 milhões
– ou R$ 2,235 bilhões em cinco anos. As autoridades desconfiam que muitas
formam família mas evitam se casar legalmente, com o único objetivo de não
perder a pensão. Segundo a lei 285/79, o matrimônio “é causa extintiva do
recebimento de pensão por filha solteira”.
O iG mostrou o caso da dentista Márcia Maria Machado
Brandão Couto, filha de desembargador morto em 1982, que recebe duas pensões –
uma do RioPrevidência (R$ 24 mil) e outra do Fundo Especial do Tribunal de
Justiça (R$ 19.200) – no total de R$ 43 mil mensais.
Aos 52 anos, Márcia recebe o montante apesar de ter
sido casada no religioso e excluída do RioPrevidência, razões
que a impediriam de voltar a receber o benefício. Como mostra certidão anexada
à ação popular, ela se casou no religioso em 1990, mas não no civil. O
expediente é visto como “fraude à lei” pela ação popular e pela Procuradoria
Geral do Estado.
Análise será feita por promotoria da Tutela Coletiva
A análise
do Ministério Público ficará a cargo de uma das oito promotorias de Tutela
Coletiva de Defesa da Cidadania do Ministério Público. O caso será destinado à
livre-distribuição e um dos promotores que atuam na área será designado.
O passo
seguinte deve ser a instauração de um inquérito civil. O procedimento pode
ensejar ação civil pública.
As
atribuições da Tutela Coletiva de Defesa da Cidadania são "instaurar
investigações (inquéritos civis), expedir recomendações, fazer termos de ajuste
de condutas e propor ações civis públicas para defesa de interesses sociais
relevantes", diz o site do MP. Os promotores cobram dos entes públicos a
"proteção ao patrimônio público, através de uma repressão mais efetiva dos
atos de improbidade administrativa". Também buscam "coibir ou conter
o desvio do erário, fazendo-o retornar aos cofres públicos", com a adoção
de medidas judiciais também para responsabilizar civil e administrativamente
agentes públicos.
O RioPrevidência alega que vem adotando uma série de medidas para tentar
evitar fraudes no pagamento de benefícios aos pensionistas. O
órgão está fazendo uma atualização de dados cadastrais dos servidores ativos,
inativos e pensionistas e a auditoria de benefícios, para identificar se há
erros no pagamento de benefícios. De acordo com a assessoria, as ações
corrigiram falhas e resultaram até na exclusão de pagamentos irregulares.
O
RioPrevidência também informou estar fazendo o controle dos óbitos dos beneficiários
usando o Sistema de Óbitos do governo federal – Sisob – , para evitar fazer
pagamentos indevidos após a morte do pensionista. Ainda em 2012, o Estado e o
Ministério da Previdência Social vão fazer cruzamento de dados previdenciários
dos servidores da União, Estado e regime geral de Previdência Social para
identificar pagamentos equivocados.
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