O
consultor científico independente Barry Castleman, doutor em ciência da saúde,
falou em nome da Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto e fez um apelo
para que o Brasil proíba o uso de amianto em sua indústria o mais rapidamente
possível. O amianto já foi banido em 55 países. Castleman é um estudioso de
políticas de controle de substâncias tóxicas, atividade à qual tem se dedicado
nos últimos 37 anos. Nos últimos cinco anos, tem atuado como consultor para
Organização Mundial da Saúde (OMS), Banco Mundial (BIRD) e Organização
Panamericana de Saúde (OPAS) na área de amianto. Sua exposição contou com
tradução simultânea inglês-português.
“Como
cientista, quero dizer que a ciência busca a verdade assim como o direito busca
a justiça. E como todos os cientistas independentes aqui presentes, quero
agradecer esta oportunidade de ajudar a Suprema Corte do Brasil na sua busca
pela verdade”, afirmou Castleman, ao iniciar sua explanação. O cientista
dividiu sua apresentação em três temas específicos: a história do amianto como
um problema de saúde pública (que levou alguns países a bani-lo), as
alternativas aos produtos à base de amianto e, por último, a criminalidade
associada à indústria do amianto.
Castleman
afirmou que em todo mundo a indústria do amianto difunde o termo “uso
controlado do amianto” como propaganda mas, na realidade, esse termo não
sobrevive a um “escrutínio cuidadoso, e tem sido recusado por todos os países
industrializados que tentaram inicialmente controlar ou regulamentar o uso do
amianto e perceberam que a regulamentação não teria eficácia, especialmente no
ramo da construção civil, no qual o amianto é mais utilizado. Ele afirmou que
95% do amianto produzido no Brasil e no mundo são utilizados na construção
civil.
Problema de saúde pública
O longo espaço de tempo entre a exposição e o
aparecimento da doença é um grande desafio para a saúde pública, na avaliação
de Barry Castleman, na medida em que é um complicador para o controle do
problema de saúde pública. “Por outro lado, o tempo de latência das doenças
relacionadas à exposição do amianto aumenta os lucros da indústria, que se
baseiam na minimização dos custos da prevenção e das indenizações. E isso
ocorre em todo o mundo”, afirmou Castleman.
O
especialista lembrou que os países industrializados têm um “legado trágico” do
uso do amianto. Nos Estados Unidos, segundo ele, o pico do uso do amianto
ocorreu na década de 1970, mas apenas agora está ocorrendo um nivelamento das
taxas de mesotelioma, que também continua a subir nos países europeus. “A OMS
calcula em 107 mil o número de mortes causadas por exposição ao amianto por ano
no mundo, e uma em cada uma tem relação com câncer ocupacional”, afirmou
Castleman. Nesta estatística não estão incluídas as mortes de familiares por
mesotelioma e de residentes nas cercanias das fábricas de amianto.
Alternativas aos produtos à base de amianto
Barry Castleman foi contratado pelo BIRD para ajudar
na elaboração de um manual sobre o amianto, no qual foi inserida uma lista
produtos de fibrocimento livres de asbesto e de outros tipos de material
alternativo, como telhas de argila, alumínio e diferentes tipos de plásticos e
produtos metálicos, cuja serragem não produz qualquer tipo de poeira
cancerígena na atmosfera. “Analisando os substitutos disponíveis, autoridades
da Tailândia verificaram que o aumento de custo era de apenas 10% em relação ao
produto de fibrocimento sem amianto”, disse. Cópia do manual do BIRD traduzida
para o português foi encaminhada ao STF.
Criminalidade associada à indústria do amianto
O consultor independente denunciou que médicos do
Brasil, Índia e Tailândia têm recebido ameaças da indústria do amianto apenas
por falarem de seus riscos. Segundo ele, as ameaças são de processos judiciais,
mas há também cartas intimidatórias e até mesmo de ameaças de morte. Castleman
comparou a indústria do amianto à indústria do tabaco e afirmou que os
interesses de saúde pública não devem se curvar aos grandes interesses
econômicos desses dois setores. “Sou um defensor da saúde pública por isso acho
que o Brasil deve juntar-se a outros países no sentido de banir o amianto de seu
território”, concluiu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário