A
presidente da Comissão Parlamentar Memória, Verdade e Justiça, deputada Luiza
Erundina (PSB-SP), espera que a pressão da sociedade civil torne possível a
revisão a Lei da Anistia (Lei 6.683/79) para punir os agentes do regime militar
que torturaram presos políticos.
Uma
das oportunidades para sensibilizar a população sobre os crimes ocorridos na
ditadura, na opinião da parlamentar, será o seminário internacional sobre a
Operação Condor, que ocorre na quarta e na quinta-feira (dias 4 e 5) na Câmara.
O evento é promovido pela comissão parlamentar, que é ligada à Comissão de
Direitos Humanos e Minorias.
Criada
em 1960, a
operação foi uma aliança político-militar entre os regimes ditatoriais de cinco
países da América do Sul: Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai. O
objetivo era coordenar a repressão aos opositores dessas ditaduras e eliminar
líderes de esquerda que militavam nos cinco países.
“É
escasso o conhecimento sobre a Operação Condor. Os governos desses cinco países
devem uma posição pública de perdão sobre essa operação. Quem sabe essa
iniciativa, de trazer especialistas desses países, possa fazer avançar a
justiça de transição”, afirmou Erundina.
Jornalistas,
parlamentares e pesquisadores dos cinco países e dos Estados Unidos
participarão do evento. Entre as presenças confirmadas, estão:
- o ex-militante contra a ditadura no Uruguai e atual deputado pelo partido Victoria del Pueblo (PVP) Luiz Puig Cardozo;
-
o juiz federal argentino e autor de obras sobre a Operação Condor Daniel
Rafecas;
-
o médico e militante pelos direitos humanos no Paraguai Alfredo Boccia Paz;
-
a professora e pesquisadora da universidade de Long Island (Nova York, EUA), J.
Patrice McSherry, autora de livros sobre as ditadoras militares na América do
Sul;
-
a jornalista chilena Mónica González, fundadora e diretora da fundação Centro
de Investigación Periodística;
-
o ativista brasileiro pela defesa dos direitos humanos no Cone Sul Jair
Krischke.
Lei da Anistia
Luiza
Erundina admitiu que não há clima político para alterar a Lei da Anistia, mas
espera conseguir a mudança com a pressão popular. “Forçaremos no limite do
poder dos nossos mandatos para não somente descobrir os torturadores, mas
fazê-los pagar por isso.”
Assembleias
legislativas de doze estados (AM, BA, CE, GO, MA, MG, MT, PE, PR, RJ, RS e SP)
instituíram comissões da verdade para investigar os crimes locais praticados
pela ditadura. Erundina espera que mais estados tenham iniciativa semelhante
para forçar uma mudança na legislação.
Um
projeto de Erundina (PL 573/11)
pretende rever a lei, excluindo os agentes públicos da anistia relativa
aos crimes políticos cometidos durante a ditadura. O texto foi rejeitado pela
Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional em setembro do ano passado
e está em análise pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania.
Em
abril último, o Supremo Tribunal Federal decidiu que a Lei de Anistia beneficia
tanto os militantes da esquerda quanto os agentes da repressão.
“Arquivo do terror”
A
Operação Condor acentuou-se com o golpe militar no Chile que, em setembro de
1973, derrubou o governo socialista de Salvador Allende. Até hoje não se tem
uma dimensão exata sobre o número de vítimas da operação.
O
“arquivo do terror” – quatro toneladas de papéis descobertos no Paraguai, em
1992 – preservou intactos diários, arquivos, fotos, correspondências e a rotina
da operação. São mais de 60 mil documentos, totalizando 593 mil páginas
microfilmadas pela burocracia da repressão.
Esse
arquivo resultou nas seguintes estimativas: 50 mil mortos, 30 mil
desaparecidos, 400 mil encarcerados. Já o Movimento de Justiça e Direitos
Humanos (MJDH), de Porto Alegre, aponta que investigações oficiais realizadas
por comissões independentes chegaram a números menores: 13.960 mortos e
desaparecidos políticos no Cone Sul, no período de atuação da Operação Condor.
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