De origem alemã, Fernando Buschman tinha
25 anos quando foi executado a tiros. Como último desejo, pediu que pudesse
tocar seu violino na noite anterior à sua morte
O violinista, engenheiro e comerciante de origem alemã tinha 25 anos.
Ele foi condenado à morte por espionagem. O emocionante documentário conta
que Busch pediu, como último desejo, que pudesse tocar o seu violino na noite
anterior à execução.
Brasileiro Fernando Buschman, executado na Torre de Londres durante a Primeira Guerra Mundial
A equipe da Rádio 3 levou para a torre um violinista - o britânico
Daniel Hope. Munido de uma lista de músicas encontrada no apartamento de
Buschman no momento em que foi preso, Hope passou a noite na torre, tocando seu
violino e tentando imaginar como teria sido a última noite na vida do
brasileiro.
Relatos históricos sobre os acontecimentos daquela noite - 17 de outubro
de 1915 - feitos por guardas da torre falam da música que ecoou pelo prédio
imponente na véspera da execução. O autor do documentário, Benedict Warren,
ainda não perdeu as esperanças de localizar o violino de Buschaman, entregue
por ele a um dos guardas minutos antes da execução.
A Torre de Londres, hoje uma popular atração turística na capital
britânica, foi no passado prisão e local de execução de, entre outros, Ana
Bolena, segunda esposa de Henrique 8º. Ela começou a ser construída por volta
de 1.080 por Guilherme, o Conquistador.
Espião
Desajeitado
A história de Buschman e de outros dez estrangeiros executados na Torre
de Londres durante a Primeira Guerra é contada no livro "Shot in the
Tower: The Story of the Spies Executed in the Tower of London" (Tiro na
Torre: A História dos Espiões Executados na Torre de Londres, em tradução
literal), do britânico Leonard Sellers.
Nascido em Paris, Buschman foi criado no Rio de Janeiro, onde o pai, um
alemão naturalizado brasileiro, era dono de uma loja de instrumentos musicais.
Músico talentoso, sua grande paixão era o violino.
Depois de estudar engenharia na Áustria, o jovem voltou para o Brasil,
mas não se adaptou. Abriu uma importadora e exportadora de alimentos em
sociedade com um amigo e passou a viajar para a Europa.
Na Alemanha, conheceu Valerie, filha de um milionário, com quem se
casou. Buschman teria sido convocado para espionar para os alemães durante uma
de suas passagens pela Alemanha.
Tanto os espiões quanto o serviço secreto alemão, no entanto, segundo historiadores,
eram descuidados e amadores. A fachada de comerciante de cigarros, usada por
Buschman e seus colegas, já era conhecida pelas autoridades britânicas, bem
como os endereços para onde os espiões enviavam telegramas com "pedidos de
cigarros" - todos ligados aos militares alemães.
Na madrugada de 4 de junho de 1915, Buschman foi preso em sua casa na
Harrington Road, no bairro londrino de South Kensington. "O que você tem
contra mim?", perguntou o violinista. Em um curto espaço de tempo,
Buschman foi interrogado, interrogado novamente e, em 30 de setembro, condenado
à morte por pelotão de fuzilamento. Seu último pedido? A companhia de seu
violino.
'Como
um Cavalheiro'
"Ele era um pouco inepto e foi uma vítima dos tempos", disse à
BBC Bridget Clifford, curadora dos arquivos do Royal Armories, na Torre de
Londres, museu onde estão guardados documentos e cartas relativos ao caso de
Buschman. "Acho que ele também foi um pouco tolo", acrescentou.
Entre os documentos guardados no arquivo está uma carta endereçada a uma
pessoa identificada apenas como "meu caro senhor". Nela, Buschman
expressa gratidão pela bondade da pessoa, que teria passado com ele várias
horas no seu último dia de vida. "Aguardo tranquilo o destino a que
devo me submeter."
Ele agradece o destinatário, "um amigo em um país
estrangeiro", no momento mais difícil de sua vida. "Morro consolado e
reconciliado com todos, feliz em encontrar, em breve, a paz cuja benção aguardo
impacientemente."
Carta escrita por Valerie Buschman para o advogado de seu marido, Fernando Buschman, morto na Torre de Londres durante a Primeira Guerra
Segundo Bridget, um dos guardas da prisão escreveu sobre a execução de
Buschman em suas memórias, mencionando a música que ecoou pelo prédio, noite
adentro, na véspera de 18 de outubro de 1915.
"A imagem dele, tocando seu violino, as notas ecoando no lugar, que
por sinal se transforma completamente durante a noite", comenta Bridget,
"tudo isso toca meu coração". Segundo ela, os registros sobre o
julgamento e a execução enfatizam que Buschman "enfrentou seu destino como
um cavalheiro".
Antes de ser morto, o prisioneiro perguntou a um dos guardas se ele
tinha um filho e se gostaria de ficar com o violino porque "já não preciso
dele". Recusando a venda para os olhos, sentou-se na cadeira e, com um
sorriso corajoso, olhou de frente para os rifles dos guardas do Terceiro
Batalhão Escocês. Buschman foi executado às 7 horas.
Esposa
e Filho
Um dos mais comoventes documentos do caso, também no acervo do Royal
Armories, é uma carta escrita por Valerie Buschman ao advogado do marido morto.
Nela, a viúva pergunta pelos anéis e o violino do marido. "Diga-me, é
verdade mesmo que ele jamais voltará para mim? Ainda não posso acreditar."
Valerie lamenta que ninguém tenha tido pena de um jovem inocente, de sua
mulher e do filho do casal. "Permitiram ao menos que ele ficasse com
seu violino até seu último dia?", pergunta. E, concluindo, a viúva indaga
se seria possível encontrar a tumba do marido em Londres. "Encontrarei sua
tumba em Londres? Meu único desejo é dormir lá, onde meu amado marido está
dormindo."
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