11/07/2012

PROGRAMA LEMBRA HISTÓRIA DE BRASILEIRO ESPIÃO EXECUTADO NA TORRE DE LONDRES


De origem alemã, Fernando Buschman tinha 25 anos quando foi executado a tiros. Como último desejo, pediu que pudesse tocar seu violino na noite anterior à sua morte

Uma equipe da Rádio 3 da BBC recriou poeticamente os últimos momentos na vida do brasileiro Fernando Buschman, executado na Torre de Londres durante a Primeira Guerra Mundial.
O violinista, engenheiro e comerciante de origem alemã tinha 25 anos. Ele foi condenado à morte por espionagem. O emocionante documentário conta que Busch pediu, como último desejo, que pudesse tocar o seu violino na noite anterior à execução.
Brasileiro Fernando Buschman, executado na Torre de Londres durante a Primeira Guerra Mundial

A equipe da Rádio 3 levou para a torre um violinista - o britânico Daniel Hope. Munido de uma lista de músicas encontrada no apartamento de Buschman no momento em que foi preso, Hope passou a noite na torre, tocando seu violino e tentando imaginar como teria sido a última noite na vida do brasileiro.
Relatos históricos sobre os acontecimentos daquela noite - 17 de outubro de 1915 - feitos por guardas da torre falam da música que ecoou pelo prédio imponente na véspera da execução. O autor do documentário, Benedict Warren, ainda não perdeu as esperanças de localizar o violino de Buschaman, entregue por ele a um dos guardas minutos antes da execução.
A Torre de Londres, hoje uma popular atração turística na capital britânica, foi no passado prisão e local de execução de, entre outros, Ana Bolena, segunda esposa de Henrique 8º. Ela começou a ser construída por volta de 1.080 por Guilherme, o Conquistador.
Espião Desajeitado
A história de Buschman e de outros dez estrangeiros executados na Torre de Londres durante a Primeira Guerra é contada no livro "Shot in the Tower: The Story of the Spies Executed in the Tower of London" (Tiro na Torre: A História dos Espiões Executados na Torre de Londres, em tradução literal), do britânico Leonard Sellers.
Nascido em Paris, Buschman foi criado no Rio de Janeiro, onde o pai, um alemão naturalizado brasileiro, era dono de uma loja de instrumentos musicais. Músico talentoso, sua grande paixão era o violino.
Depois de estudar engenharia na Áustria, o jovem voltou para o Brasil, mas não se adaptou. Abriu uma importadora e exportadora de alimentos em sociedade com um amigo e passou a viajar para a Europa.
Na Alemanha, conheceu Valerie, filha de um milionário, com quem se casou. Buschman teria sido convocado para espionar para os alemães durante uma de suas passagens pela Alemanha.
Tanto os espiões quanto o serviço secreto alemão, no entanto, segundo historiadores, eram descuidados e amadores. A fachada de comerciante de cigarros, usada por Buschman e seus colegas, já era conhecida pelas autoridades britânicas, bem como os endereços para onde os espiões enviavam telegramas com "pedidos de cigarros" - todos ligados aos militares alemães.
Na madrugada de 4 de junho de 1915, Buschman foi preso em sua casa na Harrington Road, no bairro londrino de South Kensington. "O que você tem contra mim?", perguntou o violinista. Em um curto espaço de tempo, Buschman foi interrogado, interrogado novamente e, em 30 de setembro, condenado à morte por pelotão de fuzilamento. Seu último pedido? A companhia de seu violino.
'Como um Cavalheiro'
"Ele era um pouco inepto e foi uma vítima dos tempos", disse à BBC Bridget Clifford, curadora dos arquivos do Royal Armories, na Torre de Londres, museu onde estão guardados documentos e cartas relativos ao caso de Buschman. "Acho que ele também foi um pouco tolo", acrescentou.
Entre os documentos guardados no arquivo está uma carta endereçada a uma pessoa identificada apenas como "meu caro senhor". Nela, Buschman expressa gratidão pela bondade da pessoa, que teria passado com ele várias horas no seu último dia de vida. "Aguardo tranquilo o destino a que devo me submeter."
Ele agradece o destinatário, "um amigo em um país estrangeiro", no momento mais difícil de sua vida. "Morro consolado e reconciliado com todos, feliz em encontrar, em breve, a paz cuja benção aguardo impacientemente."
Carta escrita por Valerie Buschman para o advogado de seu marido, Fernando Buschman, morto na Torre de Londres durante a Primeira Guerra

Segundo Bridget, um dos guardas da prisão escreveu sobre a execução de Buschman em suas memórias, mencionando a música que ecoou pelo prédio, noite adentro, na véspera de 18 de outubro de 1915.
"A imagem dele, tocando seu violino, as notas ecoando no lugar, que por sinal se transforma completamente durante a noite", comenta Bridget, "tudo isso toca meu coração". Segundo ela, os registros sobre o julgamento e a execução enfatizam que Buschman "enfrentou seu destino como um cavalheiro".
Antes de ser morto, o prisioneiro perguntou a um dos guardas se ele tinha um filho e se gostaria de ficar com o violino porque "já não preciso dele". Recusando a venda para os olhos, sentou-se na cadeira e, com um sorriso corajoso, olhou de frente para os rifles dos guardas do Terceiro Batalhão Escocês. Buschman foi executado às 7 horas.
Esposa e Filho
Um dos mais comoventes documentos do caso, também no acervo do Royal Armories, é uma carta escrita por Valerie Buschman ao advogado do marido morto. Nela, a viúva pergunta pelos anéis e o violino do marido. "Diga-me, é verdade mesmo que ele jamais voltará para mim? Ainda não posso acreditar."
Valerie lamenta que ninguém tenha tido pena de um jovem inocente, de sua mulher e do filho do casal. "Permitiram ao menos que ele ficasse com seu violino até seu último dia?", pergunta. E, concluindo, a viúva indaga se seria possível encontrar a tumba do marido em Londres. "Encontrarei sua tumba em Londres? Meu único desejo é dormir lá, onde meu amado marido está dormindo."

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