A responsabilização dos
gestores públicos pelo desempenho dos alunos da rede oficial de ensino em
exames nacionais causou polêmica em reunião da comissão
especial sobre a Lei de Responsabilidade Educacional (LRE
– PL 7420/06
e apensados). Para o secretário de
Articulação com os Sistemas de Ensino do Ministério da Educação (MEC), Binho
Marques, a aplicação pessoal de sanções pode ser injusta. Já segundo o relator
da proposta, deputado Raul Henry (PMDB-PE), a responsabilização é necessária
para que a população possa cobrar diretamente a melhoria do ensino no País.
Binho Marques: muitas vezes, o desempenho cai porque o
repasse da União aos municípios atrasou.
O colegiado deverá discutir
16 propostas que tratam do tema. Os projetos focam pontos variados, que foram
reunidos em três grupos principais: responsabilização dos gestores públicos na
aplicação das verbas do setor; responsabilização pelo desempenho dos alunos; e
regulamentação do regime de colaboração entre os entes federados. O ponto mais
controverso, contudo, diz respeito à possibilidade da aplicação de sanções
penais e financeiras contra os secretários estaduais, municipais e outros
dirigentes.
O PL 7420/06, por exemplo,
prevê punições variadas para os gestores que descumprirem regras de melhoria da
qualidade da educação. Pela proposta, caso as médias das notas tiradas pelos
alunos em exames nacionais diminuam de um ano para outro ou haja aumento das
taxas de repetência e evasão escolar, os administradores deverão desenvolver
ações e alocar recursos específicos para solucionar cada problema.
Caso isso não seja feito,
os gestores estarão sujeitos a penas como: perda do cargo, com inabilitação até
cinco anos para o exercício de qualquer função pública; suspensão dos direitos
políticos de três a cinco anos; pagamento de multa; e proibição de efetuar
contratos com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou
creditícios.
Raul Henry: a responsabilização permite que o povo cobre
diretamente melhorias no ensino.
Uma das propostas apensadas
ao PL 7420/06 é do Executivo (PL 8039/10). Este projeto prevê somente a
possibilidade de impetração de ação civil pública
de responsabilidade educacional nos casos de descumprimento de obrigações
constitucionais e legais relativas à educação básica, assim como da execução de
convênios assinados entre os entes. Nesses casos, há possibilidade de
condenação em dinheiro ou obrigação de fazer algo. Pela proposta do Executivo,
não caberá ação civil decorrente do desempenho dos estudantes em exames
nacionais.
Não há prazo para
encerramento das discussões sobre o tema, mas um destaque
aprovado no Plano Nacional de Educação (PNE – PL 8035/10)
na Câmara estabelece que o Congresso deverá aprovar a LRE em até um ano após a
sanção do PNE. O plano está em fase de análise pelo Senado.
Governabilidade
No debate, o secretário do MEC questionou a possibilidade de responsabilização pessoal dos administradores: “Será que o gestor tem governabilidade absoluta sobre o desempenho educacional? Muitas vezes, o desempenho cai porque o repasse da União atrasou, por exemplo. Pode ocorrer também uma greve de docentes, o que é comum e legítimo. Da mesma forma, se o gestor consegue colocar todas as crianças nas escolas, inclusive aquelas que vêm de um ambiente de baixa escolaridade, o desempenho médio do município irá diminuir”.
No debate, o secretário do MEC questionou a possibilidade de responsabilização pessoal dos administradores: “Será que o gestor tem governabilidade absoluta sobre o desempenho educacional? Muitas vezes, o desempenho cai porque o repasse da União atrasou, por exemplo. Pode ocorrer também uma greve de docentes, o que é comum e legítimo. Da mesma forma, se o gestor consegue colocar todas as crianças nas escolas, inclusive aquelas que vêm de um ambiente de baixa escolaridade, o desempenho médio do município irá diminuir”.
Para Raul Henry, no
entanto, as chances de injustiça na aplicação de sanções são mínimas. “Em
primeiro lugar, o município será comparado com ele próprio, e não com uma
região distante, mais rica do País. Depois, o gestor ainda terá amplo poder de
defesa para mostrar se um fato extraordinário naquele ano dificultou o
desempenho dos alunos, como uma greve ou uma geada”, explicou.
Municípios
A secretária de Comunicação da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), Márcia Carvalho, também criticou as sanções previstas em alguns projetos de LRE. “Atualmente, a grande dificuldade é a garantia de condições para que as responsabilidades sejam efetivamente cumpridas. Alguns gestores municipais não têm verbas suficientes para cumprir metas, como é o caso da expansão da educação infantil. A medida sobrecarrega o ente mais frágil, que é o município, sem que haja o devido financiamento”, reclamou.
A secretária de Comunicação da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), Márcia Carvalho, também criticou as sanções previstas em alguns projetos de LRE. “Atualmente, a grande dificuldade é a garantia de condições para que as responsabilidades sejam efetivamente cumpridas. Alguns gestores municipais não têm verbas suficientes para cumprir metas, como é o caso da expansão da educação infantil. A medida sobrecarrega o ente mais frágil, que é o município, sem que haja o devido financiamento”, reclamou.
Márcia alertou ainda que
muitos secretários municipais de Educação não são responsáveis pelo orçamento
da área. “Em muitas cidades, a ordenação de despesa fica a cargo das
secretarias de Finanças ou Fazenda. Não cabe penalizar o gestor por algo que
não está sob seu controle”, declarou.
Cronograma
O presidente da comissão especial, deputado Waldenor Pereira (PT-BA), afirmou que o grupo deve realizar diversas audiências públicas sobre o tema, além de seminários na maior parte das regiões do País. De acordo com Raul Henry, porém, o debate só deverá ser retomado a partir de novembro em razão das eleições municipais.
O presidente da comissão especial, deputado Waldenor Pereira (PT-BA), afirmou que o grupo deve realizar diversas audiências públicas sobre o tema, além de seminários na maior parte das regiões do País. De acordo com Raul Henry, porém, o debate só deverá ser retomado a partir de novembro em razão das eleições municipais.
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